Quais as possíveis conseqüências das complicações nos pés?
A diabetes pode gerar diferentes tipos de complicações nos pés, incluindo pé de atleta (uma infecção por fungos), calos e úlceras que podem ser desde superficiais até muito profundas. Complicações mais sérias incluem infecções profundas de pele e osso.
A complicação mais séria é a gangrena (apodrecimento e morte dos músculos e da pele do pé), que pode culminar com a necessidade de amputação do pé. Cerca de 5% dos indivíduos com diabetes eventualmente são submetidos à amputação de um pé. Mas esta trágica consequência pode ser evitada em 90% dos casos, se houver controle adequado dos níveis de glicose no sangue, um cuidado diário com os pés e escolha de um sapato ideal.
Os fatores que aumentam o risco de ocorrência de complicações são: a existência prévia de úlceras, a existência de lesões nos nervos, circulação deficiente e controle precário da glicemia.
Como prevenir?
Pacientes com diabetes tipo 1 devem passar por uma avaliação anual dos pés após 5 anos de diagnóstico. Já os pacientes com diabetes tipo 2 devem iniciar o acompanhamento dos pés 1 ano após o diagnóstico.
Durante este exame, o médico checa sinais e sintomas que sugiram circulação deficiente, lesão neurológica, alterações de pele e deformidades. Os pacientes devem estar atentos e relatar ao médico quaisquer alterações que tenham percebido com relação aos seus pés.
São sinais de circulação deficiente: pulsos fracos, pés frios, pele azulada e falta de pêlos. São sinais de lesão neurológica: sensações incomuns nos pés e pernas, como dor, queimação, formigamento, frio e cansaço. Será útil se o paciente souber perceber e descrever a ocorrência destas sensações, o local afetado por elas e quais medidas aliviam os sintomas. Algumas vezes a lesão neurológica pode ocorrer gradualmente sem gerar sintomas, até que a pessoa perca a sensibilidade a ponto de ferir os pés em alguma pedra ou mesmo no próprio sapato, sem perceber. O perigo maior, neste caso, é a pessoa só perceber a lesão quando ela já estiver infectada. Por este motivo é que o médico deve avaliar se o paciente já apresenta alguma alteração ou perda das sensações nos pés.
O exame pode revelar alterações nos reflexos e perda da capacidade de perceber pressão, vibração, alfinetadas e alterações na temperatura. O médico dispõe de equipamentos especiais para ajudar a quantificar a extensão de qualquer lesão no nervo.
As alterações de pele também devem ser avaliadas, devendo-se estar atento para ressecamento excessivo, rachaduras ou descamações, que evidenciam um comprometimento do efeito protetor da circulação. Também deve-se estar atento para calos, ferimentos e rachaduras entre os dedos.
A aparência e forma dos pés podem ser reflexo das lesões dos nervos.
Que medidas podem reduzir o risco das complicações no pé do diabético?
Um controle adequado do sangue pode reduzir as lesões em vasos e nervos que vão predispor às complicações. Nos casos em que já há lesões, o controle adequado da glicemia reduz o risco da lesão progredir para uma amputação. Algumas ações simples como as seguintes podem reduzir o risco de complicações no pé:
- Não fumar: o cigarro agrava problemas vasculares e cardíacos e reduz a qualidade da circulação nos seus pés.
- Evitar atividades que podem lesar seus pés: evitar andar descalço, manter os pés secos e limpos, aplicar loção hidratante para evitar pele seca e rachaduras, tomar cuidado ao cortar as unhas, não retirar cutículas, não estourar bolhas, avaliar os pés diariamente (principalmente entre os dedos) em busca de lesões.
- Escolha meias e sapatos com cuidado, preferindo meias de algodão e sapatos confortáveis.
- Troque de sapato todos os dias. Não use o mesmo sapato mais de um dia seguido, e use novos sapatos aos poucos, para evitar bolhas.
- Peça ao médico para examinar seus pés ao menos uma vez por ano, e mais frequentemente se você estiver notando alguma alteração.
Como tratar as complicações dos pés?
Este tratamento depende da presença e da gravidade de úlceras nos pés. Para úlceras superficiais envolvendo apenas a superfície da pele, o tratamento inclui cuidado profissional para limpar a úlcera, retirando as partes que já estiverem mortas. Se houver infecção, devem ser prescritos antibióticos. O paciente (ou alguém em sua residência) deverá limpar a úlcera e aplicar um curativo limpo duas vezes ao dia, devendo também manter repouso e manter o pé machucado elevado. A úlcera deve ser avaliada semanalmente por um profissional, que irá verificar se o tratamento está sendo eficaz. No caso de úlceras mais profundas, envolvendo músculos e ossos, usualmente é necessária a hospitalização, o uso de antibióticos endovenosos e a realização de alguns exames de sangue e radiografias. Algumas vezes chega a ser necessária a remoção de ossos infectados.
Quando partes dos pés ou dedos dos pés se tornam gravemente lesados, com tecido morto sem chance de ser recuperado, torna-se necessária a amputação (das áreas com tecido morto), que só é realizada em último caso.
Fonte: Bennett, Plum et alli. Cecil Tratado de Medicina Interna. 20 ed. Ed.Guanabara Koogan S.A., Rio de Janeiro, 1997. Retirado de